12 julho, 2011

O Mesmo Bule.


Era incrível o modo que ela entendia o mundo. Parecia que zombava dos ideais de tantas pessoas. Tínhamos um bule de chá na nossa casa, ele estava conosco há 25 anos, e deixava o chá com gosto de ferrugem. Ela não queria trocar, dizia que a mesmice era o que trazia a magia do mundo. Fazia sempre o mesmo caminho da padaria para casa, por que pensava que a rotina mantinha os corações seguros e não tinha como fazer mal, pois afinal, a mesma coisa se torna tão explorada que acaba sendo... Inofensiva?
Ali, naquela mesa, ela se recusou a jantar à luz de velas, se recusou a mudar de casa, se recusou a arrumar os problemas entre nós. No fim das contas, ela morreu mais cedo que eu. A mesmice a deixou amargurada, mas ela se conformou. Achou difícil demais mudar o jeito de ser para melhor, e acabou sucumbindo às tragédias do mundo.
No fim das contas ela não amou, não viveu, não perdoou, não foi perdoada, não entendeu, nem entendida. Simples assim. Se tornou uma parede que lentamente palpitava, tão lentamente que uma hora parou. Seu coração morreu agonizante, e infelizmente a única pessoa que podia ajudá-la era ela mesma, mas... Parecia ser perigoso demais também.
E eu... Troquei o bule de chá.

21 maio, 2011

You remind me of you


Você percebe que as coisas estão bem quando o mundo sorri para você e te mostra que o mundo é bem mais do que você pode esperar, bem mais do que você pode imaginar, e bem mais do que você pode respirar.
E por mais que chegue uma hora que os vidros caiam e tudo fique um caos, que você sente medo de se machucar... Por mais que se machuque nessa bagunça, por mais que as coisas não acabem como o planejado... Os caminhos alternativos nos mostram que as cores podem sim continuar fortes e presentes, quando acreditamos.

19 março, 2011

No surprises, please


You look so tired and unhappy

13 março, 2011

Reckoner

E ainda existem pensamentos que me perturbam depois de tanto tempo.
E há uma sensação de arrependimento por ter enganado a mim mesma com palavras que foram escritas por minhas mãos, mas que não se formaram na minha mente. Memórias que oscilam constantemente, mas felizmente, menos intensas. Músicas que não consigo mais ouvir, livros que não consigo mais ler, cidades que não posso mais visitar... Tudo pra evitar voltar a olhar para tempos do meu íntimo que não cicatrizou. Cartas que estão guardadas no meu quarto que não faço mais questão de ver, mas não as devolvo. Não devolvo porque já as li, e mandá-las embora não vai mudar nada dentro de mim.
E ainda existem nomes que ao ler me fazem abaixar a cabeça e discordar. Estereótipos de doçura e aparente inocência que não me atraem mais, que me enojam. Percebo meus novos preconceitos. Percebo que me fragilizei.
E não vou continuar esperando por algo que pelo jeito não vai acontecer. As cartas não vão ser postas na mesa porque não há resposta do outro lado. E não vou ficar mais um ano me martirizando. Mas é isso. Efeitos colaterais.
E não mais me lamento por não ter alcançado objetivos recentes. Agora volto meus olhos pro horizonte. Não sou mais like ripples in a blank shore. Não sou mais Macabéa.
E digo mais. Eu amo, e isso basta.

28 janeiro, 2011

Shouldn't


Essa é pra você, Mari.
"Para as coisas importantes, nunca é tarde demais, ou no meu caso, muito cedo, para sermos quem queremos. Não há um limite de tempo, comece quando quiser. Você pode mudar ou não. Não há regras. Podemos fazer o melhor
ou o pior. Espero que você faça o melhor. Espero que veja as coisas que a assustam. Espero que sinta coisas que nunca sentiu antes. Espero que conheça pessoas com diferentes opiniões. Espero que viva uma vida da qual se orgulhe. Se você achar que não tem, espero que tenha a força para começar novamente."
- O Curioso Caso De Benjamin Button

25 janeiro, 2011

Petit


- Onde estão os homens? - tornou a perguntar o princepezinho. - A gente se sente um pouco só no deserto.
- Entre os homens a gente também se sente só - disse a serpente.
O pequeno príncipe olhou-a por um longo tempo.

08 outubro, 2010

Sonho de 07/10/2010


Movimentação dentro da chácara, muitas estudantes jovens andando de um lado para o outro, rindo, conversando, brincando. Era noite, a floresta que cercava o local era banhada pela lua cheia e pálida. Havia meninos, jovens também, do lado de fora. Uns conversando e outros jogando futebol. Era próximo das 12 horas. Eu e L.A. estávamos em um dos quartos conversando banalidades, reclamando de algumas coisas e fazendo reflexões sobre outras. O movimento nos outros cômodos continuava, alegremente. O quarto de nós duas ficava no fim do corredor. Estava quente, era verão.
Um menino, M.P., entra no quarto e pega a mochila de L.A., e corre para a parte externa, onde o número de pessoas havia diminuído. Chegando lá, encontro W.T., antigo amigo que não via há muito tempo. Ficamos conversando até que L.A. chamou por nós. Tinha encontrado a mochila.
Estava no pé de uma ladeira íngreme, do lado de uma fogueira rudimentar. L.A. desceu mas não conseguia encostar na mochila, que começou a pegar fogo. Do alto da ladeira, eu e W.T. avistamos um incêndio de proporções catastróficas se aproximando rapidamente na direção de todos nós, principalmente da jovem que não conseguia tirar a mochila do lugar. Desesperados, corremos na direção dela e voltamos o mais rápido que conseguíamos, ofegantes, para a chácara.
Enquanto corríamos, com W.T. puxando eu e L.A. pelos braços, as cenas ficaram em câmera lenta. O fogo alto vinha de todas as direções, expelindo labaredas altas e espirais por cima das árvores chamuscadas. Muitas pessoas corriam, outras rezavam, e outras ainda se jogavam no fogo. Não aguentava mais correr, mas W.T. me arrastava. Olhei para cima, a lua estava lá. Coberta por uma cortina de fumaça preta, perdendo seu brilho. Não havia pássaros voando ou animais correndo. Todos foram consumidos pelas chamas.
Não havia estrada, caminho ou brecha livre, as colunas vermelhas formaram um círculo ao redor de todos. Atingiam 5 ou 6 metros de altura, e o calor se tornava insuportável.
Entramos na chácara, voamos para o fim do corredor. Durante essa breve corrida, vi meninas chorando muito, umas abraçadas nas outras, e outras estáticas olhando pela janela a onda chegando. Sentamos e nos encostamos na parede do fim do corredor. Não chorávamos, estávamos assustados olhando para o caos. O tempo passou mais devagar ainda a partir daí. A cortina de fogo havia invadido os quartos. Balançava syavemente, parecendo um veludo laranja, amarelo e vermelho. Como se fosse um cobertor, cobria tudo com seu oscilar sereno e veloz. Engolia quadros, camas, lágrimas, pessoas, problemas. Não distinguia, só se alimentava impaciente... Mas suave. Depois disso, L.A., W.T. e eu desmaiamos abraçados um no outro, na esperança de que o nascer do sol iria nos salvar do castigo de Morfeu.


*Os nomes foram substituídos por duas letras para não revelar a identidade das pessoas que estavam no sonho.

25 setembro, 2010


"Estou me enganando, preciso voltar. Não sinto loucura no desejo de morder estrelas, mas ainda existe a terra. Se o brilho das estrelas dói em mim, se é possível essa comunicação distante, é que alguma coisa quase semelhante a uma estrela tremula dentro de mim. Eis-me de volta ao corpo. Voltar ao meu corpo. Quando me surpreendo ao fundo do espelho assusto-me.
Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma.
Quando me surpreendo ao espelho não me assusto porque me ache feia ou bonita. É que me descubro de outra qualidade. Depois de não me ver há muito quase esqueço que sou humana, esqueço meu passado e sou com a mesma libertação de fim e de consciência quanto uma coisa apenas viva."

- Clarice Lispector.

24 setembro, 2010

Conto de Klaus (1)


Já nem sei mais quantas vezes perambulei por essas ruelas miseráveis e pecaminosas, cujos olhos ocultos perdoam todos aqueles que entendem seu linguajar pérfido e desleal. Parece que o submundo dos motores, sinaleiros, prédios e calçadas reconhecem o verdadeiro vencido quando vê um. A cidade (mas não qualquer uma, falo das verdadeiras cidades) é um organismo vivo, que pulsa no movimento sincronizado dos habitantes que a constrói de forma desordenada, mas mesmo assim linda para os que sabem apreciar. É como se ela conseguisse, friamente, cicatrizar as suas feridas, não atrapalhando o delicado fluxo da explosão de vida que se segue em seu interior. Ela fagocita tudo aquilo que é descartável, incurável e inegociável: os alcoólatras intragáveis, os corações estuprados, as mentes vanguardistas, as inocentes cabeças interioranas, as cabeças a prêmio e mais uma infinidade de casos e causos.
Os ruídos extravagantes que o complexo organismo exprime agora é o que me acalma e me afasta dos olhos que já macularam minha mente, meu mundo e meu corpo. Cada barulho e estrondo desde então se tornou uma sinfonia comparada à tua doce e serena voz, que entrou pela minha boca e saiu pelos meus olhos marejados. Os odores fétidos e insignificantes dos bueiros, ratos e mendigos se tornaram doces agora que teu aroma natural de seus cabelos, seu corpo e suas idéias se foram e me deixaram aqui, a deriva no meio de um mapa que não consigo mais decifrar. São só obviedades. Tudo que você me deixou foi o ar para que eu não morresse sufocado no meio desse labirinto tão familiar e tão mutável dentro e fora da minha cabeça. E o que sobrou foi esta moeda que corre freneticamente entre meus dedos.
Olhava pra mim desencantada, inconsolável, como tantas outras vezes que eu, em vão, tentava te mostrar como era lindo o pôr-do-sol e o que o horizonte nos guardava para o futuro. Mas você nunca me ouviu, não é mesmo? Nunca ouviu por que nunca acreditou em uma palavra que eu dizia, nunca criou esperanças nos sonhos que aparentemente só eu tinha... Mas foi-se o tempo que eu te culpava, agora o que posso fazer é lamentar a perda. Teu peito morno, tua cama seca, teu rosto morto. Nem mais saía lágrimas dos teus olhos! Falava que tinha medo de fugir, de encarar a realidade, de se arrepender depois, e no final das contas acabou fugindo. Mas fugindo de mim.
E a última coisa que você me disse naquela noite branda foi “Corre, corre por que todos saberão quem tu és. Corre por que todo esse baile de máscaras que tu criaste vai dissolver como areia em uma ampulheta; em menos tempo que tu imaginas”.

08 setembro, 2010

Sapore Di Mare


I tried to talk with God to no avail
Called him up in-and-out of nowhere
Said "If you won't save me, please, don't waste my time"

29 agosto, 2010

So high


O vento deslizou no meu rosto carinhosamente com o movimento suave do balanço. Balançávamos à noite, tentavamos alcançar a lua cheia e amarela no meio do céu negro com pontos estrelados. A neblina subia, mas nós íamos mais alto. E quando mais balançávamos, mais felizes ficávamos, pois ouvíamos o doce som de nossas próprias mentes. Ouvíamos o som dos nossos doces sonhos.

21 agosto, 2010

Poema De Sete Faces


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.

O bonde cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, Meu Deus, pergunta
meu coração.
Porém meus olhos não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás do óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.



-Carlos Drummond De Andrade.

14 agosto, 2010

Let the seasons begin


"Segure a minha mão"
Disse Klaus.
"Vamos voltar pra nossa casa"
E esse vai ser o pôr-do-sol mais lindo
Que eles verão no futuro.

07 agosto, 2010

Hiro


Pensar demais complica a realidade
Pensar de menos afeta nossa vida
Melhor então viver outra realidade.

Mas enquanto não vivemos outra
Trajamos as camisas de força
E desfilamos orgulhosamente
Em todas as avenidas
Governadas pelo imaginário
Imaginário dos outros.

Vai fazer alguém pensar
Da forma que você gostaria?
Então procure as estrelas.

30 julho, 2010


"Sonhe e será livre de espírito.
Lute e será livre na vida."
(Che Guevara)