Movimentação dentro da chácara, muitas estudantes jovens andando de um lado para o outro, rindo, conversando, brincando. Era noite, a floresta que cercava o local era banhada pela lua cheia e pálida. Havia meninos, jovens também, do lado de fora. Uns conversando e outros jogando futebol. Era próximo das 12 horas. Eu e L.A. estávamos em um dos quartos conversando banalidades, reclamando de algumas coisas e fazendo reflexões sobre outras. O movimento nos outros cômodos continuava, alegremente. O quarto de nós duas ficava no fim do corredor. Estava quente, era verão.
Um menino, M.P., entra no quarto e pega a mochila de L.A., e corre para a parte externa, onde o número de pessoas havia diminuído. Chegando lá, encontro W.T., antigo amigo que não via há muito tempo. Ficamos conversando até que L.A. chamou por nós. Tinha encontrado a mochila.
Estava no pé de uma ladeira íngreme, do lado de uma fogueira rudimentar. L.A. desceu mas não conseguia encostar na mochila, que começou a pegar fogo. Do alto da ladeira, eu e W.T. avistamos um incêndio de proporções catastróficas se aproximando rapidamente na direção de todos nós, principalmente da jovem que não conseguia tirar a mochila do lugar. Desesperados, corremos na direção dela e voltamos o mais rápido que conseguíamos, ofegantes, para a chácara.
Enquanto corríamos, com W.T. puxando eu e L.A. pelos braços, as cenas ficaram em câmera lenta. O fogo alto vinha de todas as direções, expelindo labaredas altas e espirais por cima das árvores chamuscadas. Muitas pessoas corriam, outras rezavam, e outras ainda se jogavam no fogo. Não aguentava mais correr, mas W.T. me arrastava. Olhei para cima, a lua estava lá. Coberta por uma cortina de fumaça preta, perdendo seu brilho. Não havia pássaros voando ou animais correndo. Todos foram consumidos pelas chamas.
Não havia estrada, caminho ou brecha livre, as colunas vermelhas formaram um círculo ao redor de todos. Atingiam 5 ou 6 metros de altura, e o calor se tornava insuportável.
Entramos na chácara, voamos para o fim do corredor. Durante essa breve corrida, vi meninas chorando muito, umas abraçadas nas outras, e outras estáticas olhando pela janela a onda chegando. Sentamos e nos encostamos na parede do fim do corredor. Não chorávamos, estávamos assustados olhando para o caos. O tempo passou mais devagar ainda a partir daí. A cortina de fogo havia invadido os quartos. Balançava syavemente, parecendo um veludo laranja, amarelo e vermelho. Como se fosse um cobertor, cobria tudo com seu oscilar sereno e veloz. Engolia quadros, camas, lágrimas, pessoas, problemas. Não distinguia, só se alimentava impaciente... Mas suave. Depois disso, L.A., W.T. e eu desmaiamos abraçados um no outro, na esperança de que o nascer do sol iria nos salvar do castigo de Morfeu.
*Os nomes foram substituídos por duas letras para não revelar a identidade das pessoas que estavam no sonho.