Branco Perolado.

Querida Josefine:

Envio-lhe por meio desta alguns pedaços de meu coração, foi a única coisa que me restou, já que você ficou com o resto. Também mando o chapéu que tu esquecestes na noite em que nos conhecemos. Maldita noite! Por que você estava tão bela naquele vestido branco perolado? Por quê eu fui fisgado pelo seu olhar penetrante e fuzilador? Você é uma mulher e tanto, minha cara, mas não é perfeita, que fique bem claro.
Não vou te esquecer, não quero te esquecer. Nem que eu tenha que sofrer a cada noite lembrando dos momentos maravilhosos e únicos, das poucas horas em que estivemos juntos, a primeira e última vez. A mulher dos olhos de mel, a mulher que me fez ficar nas alturas, a mulher que me mostrou o que é nascer denovo... e morrer mais uma vez.
Tudo seria diferente se me contasse o por quê de tudo aquilo, sem eu precisar descobrir sozinho, sem eu precisar sofrer tanto, sem eu precisar ver você nos braços de outro.
Por que, minha cara, nem todos são feitos de pedra que nem você, não são todas as pessoas que passam dificuldades como você passa. Nem todas as mulheres conseguem satisfazer um homem carente como eu.
Mas há uma falha nos seus truques, meu amor. Você mesma me disse naquela hora que não poderia se apaixonar por mim, que muitas coisas erradas poderiam acontecer, meu nome poderia ficar sujo. Meu nome ficar sujo? Já não basta o meu coração roubado, pisoteado e despedaçado?
Apesar de tudo, lembre-se que não te esquecerei.

Atenciosamente,
Miguel.