16 janeiro, 2010

Capítulos 23 e 24.

CAPÍTULO 23

O lugar estava cheio. Ela corria desesperada para todas as direções mas não chegando a lugar nenhum. Suas mãos apalpavam qualquer coisa e não iria parar até sentir o livro daquele menino. Não sabia como, quando e muito menos onde o deixou, e até agora não há uma pista sequer do desaparecimento dele. Cada vez mais pessoas desconhecidas surgiam e sufocavam Carmen, não deixavam-na pensar em nada, muito menos encontrar algum conhecido. Sentia vontade de gritar, mas não adiantaria nada, os outros estavam mais agitados ainda e pânico generalizado causaria um escarcéu. Saiu do salão principal e voltou para o labirinto de corredores.
A medida que se afastava, diminuía o numero de pessoas, porém o desespero delas era muito maior. Executivos, mendigos, operários, secretárias e muitos outros a agarravam e imploravam por socorro. Um homem vestindo um pijama amarelo chorava de dor e gritava por um médico. Ela não sabia o que fazer, e a falta de ar era cada vez maior, era algo que nunca havia sentido antes e a preocupava, preocupava assim como o pano preto que se mechia violentamente e trazia cada vez mais pessoas desesperadas, machucadas e impacientes.
Não conseguia continuar caminhando, sentia que sua cabeça iria e explodir, ou que iria começar a chorar até seus olhos incharem. Estava mais desnorteada que antes, e agora sem o livro e perdida das pessoas que a ajudam. Encostou a cabeça em um armário e ficou um bom tempo em silêncio olhando para os seus pés, ignorando o caos. Acalmando sua mente.


CAPÍTULO 24


Levantou a cabeça e viu o pano preto em um modo mais gracioso, dançando nos olhos de Carmen, estimulando-a em sua caminhada. Ainda haviam pessoas naquele corredor, mas não tão desesperadas como antes. "Seria o pano as controlando ou elas se conformando?", pensou. Sentia-se seduzida por ele, queria tocá-lo. Queria ouvir o que ele tem a dizer. Respirou fundo e continuou sua busca. Olhava os que surgiam e sabia que eles vieram do mesmo lugar que ela veio, mas de uma maneira diferente da dela. Todos foram vítimas do pânico e desastre que parece ter sido um só para todos. Foi algo em massa, de proporções que ela não conseguia imaginar, assim como não fazia idéia do por que estarem aqui, eles e ela. Um recomeço do fim parecido com o verdadeiro começo; Nascemos e não sabemos o por que, mas seguimos o curso de forma cômoda e ignorando muitas das perguntas que surgem ao longo do caminho. Se de fato não há tempo neste lugar e todos são livres, Carmen correrá atrás de suas respostas, nem que tenha que bater de frente com o delírio.
Sentia as paredes pulsando e tremendo levemente, ela sentiu um leve enjôo. Percebeu que o lugar havia se tornado maior do que antes, como se as paredes tivessem aumentado para comportar mais pessoas. Esta biblioteca não era somente uma biblioteca. Era um organismo vivo, e poucos percebiam isso. "Aquele senhor tinha razão então"- pensou-" Se aqui é um organismo vivo, quer dizer que pode se comunicar de alguma maneira... Mas como? É realmente necessário esperar?".