25 junho, 2010

Lirismo dos clowns de Shakespeare


Ó belas formas aveludadas
De teus gestos surgem as mais belas melodias
Que nem os mais belos pássaros
Conseguem gorjear.

E de teus olhos amendoados
Cores e sabores se misturam
Nessa bela música
De dois livres apaixonados.
De dois livres apaixonados...
De...

De duas estrofes que reproduzem uma banalidade que cruza os séculos. Estamos contentes até mesmo com o comodismo literário. Amantes do seu não merecido lugar ao sol, por que na realidade... Ah sim, realidade não há para vocês. Construções milimetricamente planejadas para parecerem espontâneas e geradas em momentos de êxtase. Mas nem ao menos sabem o que é êxtase.
“Eu líricos” do século 21, onde o comodismo paira sobre nossas cabeças. “Não tem mais o que se produzir” dizem tantos. Não, não tem mais o que essas mentes podem produzir. Estão ocupadas em reproduzir. Palavras rebuscadas, melodias e versos açucarados... Não tenho tanta coisa contra isso, por que afinal beleza sempre é bem-vinda em um mundo carente de visões que tentam agarrar o horizonte e engarrafar nos olhos marejados do mundo frio e profanado. Na realidade, o que mais assusta do que enraivece (ou vice-versa, não sei ao certo), são os mórbidos. “Sou a vítima desse mundo, o aborto que deu errado! Minha existência não faz diferença para esse mundo. E meu pai me dá uma mesada de 3 mil reais”. Ao menos os verdadeiros literários que eram ricos e se lamentavam, fizeram diferença no mundo tirando a visão alienada do Romantismo. Só que os tempos são outros. Uma era de egocentrismo tão grande que não nos damos conta tantas vezes de que nossos problemas não são tão ‘problemáticos’ assim. Só são difíceis. Agora, se você tem câncer, AIDS ou qualquer coisa do gênero, até entendo você se lamentar mas... Enfim. Nos alienamos na tentativa de libertarmos da capenga banalidade.
É uma situação mais delicada do que parece, na verdade. Por que isso também é conseqüência de vozes de comando induzindo ao erro. O dilema de que para nos libertarmos devemos procurar conhecimento. Problema da minha (E provavelmente da próxima) geração: Sim, buscamos o conhecimento. Mas dá para contar nos dedos os que acham e absorvem. Ou até mesmo se acha, mas absorver já é uma tarefa árdua. Sem dúvida aspiramos fazer algo grande, realmente grande para primeiramente alimentar o nosso ego e depois nos sentirmos altruístas e contentes com o mundo (se você tem pelo menos um pingo de amor próprio, deve pensar em fazer algo para alimentar seu ego. É a realidade, admita!), só que dar o primeiro passo usando ‘ósculos e amplexos’ no seu léxico, ao meu ver, não é um bom começo.
Ah sim, mas você tem um profundo interesse nessa parte da língua, nessa forma de expressar seus mais profundos sentimentos e aliviar seus fantasmas. Se isso te faz feliz. Até pode obter êxito... Se inovar em uma linha de pensamento que já foi tão bem aproveitada, tão desgastada que agora não é vista com bons olhos por todos.
Colocando alguns parênteses na situação, estou me referindo aos ricos alienados que cometem estas atrocidades para chamar a atenção, e não expressar quem ou o que ou sei-lá-o-quê. Por mais paradoxal que pareça, muito já escrevi (E ainda escrevo!) assim.
E há a grande chance de eu estar profundamente enganada. Já que o ‘In’ é ser ‘Old’.


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Me recuso a esconder meus sentimentos, não poder mostrá-los no meu santuário.

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