12 julho, 2011

O Mesmo Bule.


Era incrível o modo que ela entendia o mundo. Parecia que zombava dos ideais de tantas pessoas. Tínhamos um bule de chá na nossa casa, ele estava conosco há 25 anos, e deixava o chá com gosto de ferrugem. Ela não queria trocar, dizia que a mesmice era o que trazia a magia do mundo. Fazia sempre o mesmo caminho da padaria para casa, por que pensava que a rotina mantinha os corações seguros e não tinha como fazer mal, pois afinal, a mesma coisa se torna tão explorada que acaba sendo... Inofensiva?
Ali, naquela mesa, ela se recusou a jantar à luz de velas, se recusou a mudar de casa, se recusou a arrumar os problemas entre nós. No fim das contas, ela morreu mais cedo que eu. A mesmice a deixou amargurada, mas ela se conformou. Achou difícil demais mudar o jeito de ser para melhor, e acabou sucumbindo às tragédias do mundo.
No fim das contas ela não amou, não viveu, não perdoou, não foi perdoada, não entendeu, nem entendida. Simples assim. Se tornou uma parede que lentamente palpitava, tão lentamente que uma hora parou. Seu coração morreu agonizante, e infelizmente a única pessoa que podia ajudá-la era ela mesma, mas... Parecia ser perigoso demais também.
E eu... Troquei o bule de chá.

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