Capítulo 22

Epidemia? Guerra? Terrorismo? As opções eram das mais variadas. Tantas pessoas surgirem de repente... Explicações lógicas não faltavam assim como as sobrenaturais. O pano preto chacoalhava levemente, como se uma brisa suave estivesse dançando com ela. Isto acalmava Carmen, aquietava a tensão de sua mente. Percebeu que não era a única ao olhar para o objeto se movimentando acima de sua cabeça. Havia um homem muito velho usando uma toga branca, quase prateada, ao seu lado. Seus cabelos e barba brancos evidenciavam mais de meio século de vida. Tossiu e em seguida falou, pausadamente e pacientemente, como se já tivesse falado tanto em sua vida.
-Os tempos andam mudando depressa.
-É o que eu ouvi a minha vida inteira.
-Pois os sábios de seu tempo não estavam errados. Além de cabeça aberta, preservam as raízes. Lembro-me do dia em que ele chacoalhava pacientemente em seus belos tons de azul...
Carmen arregalou os olhos. “Azul? Quer dizer que este pano não foi sempre preto? Como isso aconteceu? Alguém o trocou?”
-Calma, minha pequena, cada coisa a seu tempo. Este ser - Não posso te dar certeza se é um objeto inanimado ou não - Mudou muito em várias eras. Quando os jovens que chegavam diziam que estava havendo uma guerra no mundo inteiro, o Pano estava tão vermelho quanto os mais belos tecidos de veludo. Sangrava por dentro, Balançava desnorteadamente, indiscreto. Houve seus tempos de calmaria também. Turquesa, azul, amarelo. Só nunca vi branco... Acho que nunca foi encontrada esta harmonia.
-Então... É como se este pano fosse um termômetro do que acontece lá fora?
“Talvez.” Balançou a cabeça, o ancião. “Quem sou eu para te dar certeza... Como lhe disse, não posso ter certeza de que isto é algo ‘morto’. Parece que sente o que se passa, sabe? E pelo jeito as coisas não andam nada bem ultimamente, nunca tinha visto ele tão mórbido, desesperançoso... Já faz algum tempo que está deste jeito, não posso te dar data exata, aqui perdemos a noção do tempo. Mas não se afobe, você vai aprender muitas coisas deste lugar ainda. Espere que o lugar te conte a história, não extraia informação antes do tempo, senão vai acabar como algumas pessoas.”
-E como estão essas pessoas?
Ele suspirou. “Delirando.”.