05 março, 2009

Capítulo 10.

Começou a folhea-lo vagarosamente, como se não estivesse muito entusiasmado para mostrar o conteúdo. Parou na página 115, onde tinha uma imagem muito colorida e detalhada. Tinha uma criança sentada em um banco vermelho que se encontrava em um jardim cheio de tulipas amarelas. O menininho parecia feliz, segurando um carrinho de brinquedo e olhando na direção de uma borboleta azul que quase brilhava. O sol ao fundo era grande e estava se aproximando da casa de barro quase imperceptível na imagem. Carmen ficou um bom tempo analisando.
-Nossa, que foto linda! É você? Quando foi tirada? Você era loiro?
-Nunca fui loiro e não é uma foto, é um desenho que eu fiz. -Falou secamente.
O jeito de falar do garoto pareceu o mesmo efeito de um tapa no rosto dela, que corou levemente e entregou o livro, com a página ainda aberta.
-Olha... eu sei que é difícil você entender mas... Ha certas coisas que são muito difíceis de serem superadas, mesmo depois de um bom tempo.
-Ahhh, não precisa falar mais nada menino, não ter uma câmera fotográfica não te faz uma pessoa melhor ou pior!
Ele colocou o livro no chão, virou as costas e sumiu nos corredores. Com um peso na consciência, Carmen pegou o objeto para fechar e guardá-lo, mas pensou duas vezes, sentou no piso de madeira e começou a lê-lo após a figura. Estava escrito a pena, com traços delicados sem borrões.
"Fazia mais de dois meses que eu sonhava com isso, parecia que futuramente ele ia ser o meu filho, e esse pressentimento me incomodava, parecia que seria um castigo por tudo aquilo que eu pensei em não fazer, ou fazer e me arrepender depois. As nuvens acalmavam meus olhos na noite 48 horas após o meu aniversário, a ponte balançava, me deixando mais assustado que antes. Mas não podia adiar, ou isso, ou meus fantasmas iriam me assombrar até me verem deitado dentro de um caixão, sendo consumido pelos vermes. Então o certo tinha que ser feito."
As páginas seguintes foram arrancadas, outras pisoteadas, como se o autor tivesse se arrependido de escrever o livro. Carmen precisava saber que não era a única a ter lembranças confusas, tinha que achar o adolescente custe o que custasse. Mas antes que ela pensasse em se levantar, uma mão agarrou seu pulso e começou a arrasta-la para o desconhecido.

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