04 março, 2009

Capítulo 9.

Acordou no banco de trás de um carro, com um cheiro muito familiar. As pessoas no banco da frente estavam discutindo, mas em uma língua que ela desconhecia. Era de nnoite e estava frio por causa do ar-condicionado. Na direção tinha um homem com uma cicatriz o pescoço até a orelha, estava furioso com a mulher do lado, provavelmente sua esposa. Carmen achava que tinha sido sequestrada e estava com medo do pior acontecer. Olhou pela janela, mas pouca coisa enxergava, somente as estrelas, parecia que ela não via o céu a muito tempo. Ficou fascinada com o cruzeiro do sul.
-Não se preocupe, não estão te vendo.
Ela já estava começando a se estressar com o adolescente que não quer dizer o nome.
-Afinal menino, o que você quer? Estou ficando esquizofrênica por acaso?
-Não é meio suspeito perguntar isso para algo que é da sua imaginação?
Ela levantou a sobrancelha, "Quer dizer que você não existe?"
-Não sei, você que está achando ser doente mental.
-E você não está querendo colaborar.
-Olha quem fala, não acredita em mim por que aparento ser mais novo e...
O menino foi interrompido pelo barulho de uma buzina seguido por um clarão, por um triz o carro bate de frente com um caminhão. "Pense moça, por que você está aqui, se tudo é familiar ou não."
A medida que ela se esforçava para colocar o raciocínio no lugar, a linguagem desconhecida do casal passa a ter significado, a ficar mais clara. Os dois sentados na frente discutiam sobre uma terceira pessoa que não parecia agradar o marido.
-Todo o ano é a mesma coisa -Sua voz assustava. -Ela vem, toma todo o nosso tempo e depois diz na minha casa que não gosta de mim! Como você aguenta uma mãe assim, Clara?
-Parece até que você não tem sentimentos, amor -Disse Clara, quase chorando. "Eu sempre gostei dos seus pais, mesmo eles tirando conclusões precipitadas de mim, isso é normal. Quer que eu me afaste de você também?"
-Não... não querida... é que...
Celular toca, é a mãe da mulher avisando que está os esperando em um certo local. Uns cinco minutos depois a porta do carro abre, Carmen e o menino tiveram que se espremer. A nova passageira era uma idosa muito magra e elegante, com um ar cansado mas sorriso jovial. Cumprimentava o casal entusiasmada, o homem da cicatriz demonstrava interesse.
-Boa noite, senhora Carmen.
A mulher invisível com o mesmo nome estremeceu. Sabia que as duas eram uma só, que já havia passado por aquilo mas no momento não estava tão atenta aos detalhes. Como poderia ela, uma senhora, ficar tão jovem de uma hora para a outra, sem uma explicação lógica? Tudo fica escuro e ela volta para a biblioteca. O menino começa a andar de um lado para o outro, com uma expressão preocupada no rosto, como se algo muito grave tivesse acabado de acontecer. Ela não estava se importando, queria mais voltar para o carro, precisava saber o desenrolar daquilo, da sua provavel morte. Pegou o adolescente com o pescoço e berrou:
-Me leve de volta para lá! Agora! Você não está entendendo a minha situação! Preciso saber tudo! PRECISO!
-Mas o que posso eu fazer, minha cara? As lembranças são suas! A culpa não é minha se você se desconcentrou com o choque e voltou para cá!
Tomada por uma onda de exaustidão, sentou no chão e começou a chorar, não sabia mais o que fazer, muitas coisas estranhas estava acontecendo ao mesmo tempo e cada vez mais surgiam dúvidas que pareciam impossíveis de serem formadas.
"Olhe, eu sei que isso tudo é muito difícil, mas você precisa se recompor, não vai aparecer a solução de uma hora para a outra com você parada aí chorando...". Ela levantou, enxugou as lágrimas e fez a única pergunta que conseguia formular no momento para ele:
-Como foi possivel eu deixar de ser idosa para me tornar tão jovem de repente?
O moço respirou fundo. "Não se trata de idade física, nem mental, mas sim de estado de espírito. Aqui as pessoas se tornam fisicamente assim a partir do melhor momento de suas vidas, entende? Você está com esta aparência jovem por que alguma coisa tão boa e tão marcante aconteceu neste período da sua vida, que acabou assumindo uma forma permanente dentro de você, e agora... do lado de fora também."
Sem pensar, perguntou; "Hmm, muito interessante... e o que aconteceu com você para ficar adolescente?"
Ele puxou um livro na estante ao lado.

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