10 março, 2009

Capítulo 12.

Carmen estava se sentindo incomodada, sentia uma respiração em seu ombro.
-Lindos os desenhos desse livro, né? -Falou o menino que usava um macacão laranja.
"Por acaso você não falou com Aaron a um tempo atrás? O que disse para ele? A propósito, onde ele está?"
-Oh, acho que ele já é bem grandinho para se virar. Sou David, você ddeve ser Carmen Alexandra, Aaron me falou de você. Mostrei tudo o que Judith lhe mostrou; A outra sala, a estante dele, respondi algumas perguntas e adivinha só? Mal saiu dali e já estava louco para escrever! O que está achando daqui? Quantos livros já leu? Estou falando demais?
David se sentou ao lado dela e os dois começaram a conversar sobre tudo, menos sobre a biblioteca, parecia estar cheio deste assunto. "E a quanto tempo está aqui?" perguntou ele.
-Estou a... a... a quanto tempo estou aqui?! -disse, surpresa.
-Não dê bola para ele -Resmungou um senhor numa poltrona próxima. -Ele sempre faz essas brincadeiras de mal gosto com quem acabou de chegar. O tempo aqui é relativo, minha cara. Dependendo do que você faz ele voa ou se arrasta. É o mesmo efeito de você ficar trancada em uma caixa por dois dias, perde a noção.
-Mas não tem nem que seja um calendário aqui?
"E pra quê calendário?" Riu o menino "Para que prestarmos atenção em horários se não temos cronogramas?"
-Afinal, o que se faz nesse lugar além de escrever? -Perguntou com impaciência. "Para quê tudo isso? O que ganhamos?"
-Para que trabalhar, estudar, ter filhos e marido? Para que gastar dinheiro com viagens, casa, férias e escola? Tudo tem um propósito primário, talvez secundário. Mas e adiante? Você ri pois está feliz, está feliz por que ri. Para que ficar feliz e rir se não dura para sempre? Entende que aqui você tem outra vida tendo que se habituar com novos costumes? Socializando, observando, aprendendo, talvez até amando? Talvez quem você conheceu apareça aqui e fique a eternidade ao seu lado e talvez não. Agora entende por que o recomeço do fim? Começa no zero a partir do fim da contagem.
Ela não sabia o que dizer, não sabia o que pensar primeiro; Se chorava, se desmaiava, se perguntava ou se ficava mesmo quieta. Como um senhor sabe tantas coisas sobre o lugar? A quanto tempo está aqui? Afinal, isso é uma reencarnação só que de maneira diferente?
-Lamento atrapalhá-los, mas a conversa me interessou. Madame, este livro que você lê é sensacional, se importa se eu ler onde você parou em voz alta?
Corou levemente e entregou o livro, ele falou que a parte que Carmen parou era uma das melhores, e começou:
"Mamãe não se importava com quais pessoas eu andava ou brincava, mas com o passar dos anos, quanto mais elogios eu ganhava das garotas, mais ela me trancava em casa, até que chegou o dia da mudança, sabia que não conseguiria me esconder da cidade.
O verão mais pesado, fui para o Carvalho ter a última conversa ao lado de minha amada. Expliquei que mandaria cartas assim que pudesse e todos os dias. Que a nunca esqueceria e sempre sentiria o perfume de seus cabelos nas mais belas flores e folhas. Meu amor não disse nada, beijou minha mão e desatou a chorar, como se eu estivesse partindo para a guerra. Enxuguei suas lágrimas e pedi para que falasse. Soluçou e sussurrou:
-Ai de mim, ai de mim que vou fazer você sofrer pelo resto de sua vida, não mereço e não vou ganhar perdão, ai de mim! Por favor, esqueça meu perfume, esqueça meus olhos e voz, como podes ser tão ingênuo e venerar eu, justo eu! Que sou o pior ser deste planeta? Eu, que estou grávida do seu pai?
As cordas do violino arrebentaram.

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